[00:14:36] Brandon 92% dos consumidores acreditam que é importante que provedores de viagens atendam às necessidades de acessibilidade de todos os viajantes. Existe um desejo de melhor a acessibilidade em viagens. Vamos falar sobre o estado atual do setor de viagens. Quais são alguns dos desafios mais comuns que viajantes com deficiência enfrentam ao viajar?
[00:14:55] Alvaro Sim, eu começaria pelos desafios em termos de acomodação. O primeiro ponto é que menos de 5% dos quartos de hotel do mundo inteiro estão definidos como tendo acessibilidade. Esse é o primeiro desafio: a oferta é limitada. O segundo é que é muito difícil encontrar a acessibilidade. Muitas vezes, não é possível identificar pelo conteúdo se há acessibilidade ou não. Em muitos casos, o que vemos são declarações pouco confiáveis sobre acessibilidade. Pode haver um hotel que afirma ter acessibilidade, por exemplo, mas quando você vê o conteúdo e as fotos, você não confia no fato de que aquele conteúdo está mostrando a acessibilidade. As informações precisam ser muito detalhadas, pois pode acontecer de um hotel ter muita acessibilidade para mim, que uso cadeira de rodas, mas não para o Toby. Os detalhes são muito importantes, pois cada pessoa tem necessidades diferentes no que se refere à acessibilidade. Depois, existe o desafio relacionado à disponibilidade do quarto exato. Muitas vezes, ao chegar, com muito esforço, ao quarto que deveria ser acessível, ele já está sendo usado por outra pessoa. E temos ainda o desafio, primeiro, da categorização do espaço do quarto, e também dos métodos de receita de overbooking, que fazem com que uma nova reserva seja feita para algo que já estava reservado, fazendo com que você e o hotel precisem fazer trocas ao longo do processo. Então, retomando, trata-se de um desafio de informação. A questão de não termos informações confiáveis e detalhadas, além também do desafio relacionado à garantia da reserva. Esses são os desafios na área de acomodação. O outro desafio, e eu adoraria também ouvir a opinião do Toby. Sou especialista em deficiências relacionadas à mobilidade e deficiências físicas. O desafio que tem virado notícia, que se tornou mais relevante e que precisa ser corrigido são as viagens aéreas. Existem grandes problemas no setor das companhias aéreas relacionados a equipamentos adaptáveis sendo danificados, péssimo atendimento no acesso a aeronaves, histórias de pessoas que não conseguiram acessar o banheiro dentro do avião. Existe um problema enorme no setor de viagens aéreas que precisa ser corrigido com muita urgência.
[00:17:24] Brandon Toby, uma das coisas que já ouvi você dizer é a diferença entre prescrição e descrição quando o assunto são anúncios sobre acessibilidade em nossos sites de viagens. Será que você poderia nos dar mais detalhes sobre a diferença entre prescrição e descrição e por que isso é importante?
[00:17:43] Toby Sim, com certeza. Tem relação com o comentário do Alvaro sobre compartilhar informações. Isso é metade da batalha: compartilhar o nível de informação necessário para que viajantes possam tomar decisões confiantes e embasadas. Por isso, o meu objetivo é trabalhar com a empresa para que ela abandone a abordagem prescritiva. Ou seja: parar de afirmar que um quarto é acessível e, em vez disso, usar um tom descritivo, fornecendo informações de um nível semelhante a exemplos como a largura da porta, a altura da cama e o raio do giro que o corpo precisa fazer para se posicionar na direção do banheiro. Esse nível de detalhe permite que viajantes avaliem e tomem as suas próprias decisões. E esse é o ponto crucial da inclusão: a independência, a autonomia e o poder de fazer escolhas. Dessa maneira, viajantes podem dizer: “com base nas informações que eu tenho, o nível de acessibilidade é adequado para mim”, possibilitando uma escolha confiante.
[00:18:29] Brandon Toby, vou fazer a próxima pergunta para você e, então, Alvaro, também quero ouvir a sua opinião. Como os provedores de viagens podem ter a certeza de que estão pensando em todos os viajantes, incluindo pessoas com deficiências visíveis e invisíveis, quando estiverem tomando decisões relacionadas à empresa?
[00:18:44] Toby Ah, minha nossa. É uma pergunta tão ampla. Bem, eu tenho uma resposta bem fácil, que resolve todos os problemas. É só contratar pessoas com deficiência. Ponto. A taxa de desemprego entre pessoas com deficiência é algo em torno de 70% nos EUA. É imoral e inaceitável. Sabe, “nada sobre nós sem nós” tem sido um grito de guerra na comunidade das pessoas com deficiência há anos. Agora, está mudando para “nada sem nós”. Simples assim. E eu acho que o simples fato de contratar pessoas com deficiências diferentes e experiências de vida diferentes melhora a qualidade de qualquer produto.
[00:19:19] Brandon Alvaro, na sua opinião, como os provedores de viagens podem garantir que estão pensando em todos os viajantes?
[00:19:26] Alvaro A primeira coisa é partir do pressuposto de que há tanto a aprender sobre a realidade de diferentes pessoas e tentar aprender sobre como se adaptar a isso, depois como se adequar a isso. Eu concordo com o Toby. Ter pessoas com deficiência nas equipes permite oferecer soluções, produtos e serviços que funcionam para pessoas com deficiência, além de trabalhar com especialistas em acessibilidade. E existem tantos por aí que vão guiar você ao longo desse processo com o objetivo de pensar sobre o desenvolvimento de serviços inclusivos e com acessibilidade.
[00:20:00] Brandon Vamos fazer tipo uma avaliação ou um sistema de notas. Em quais áreas vocês diriam que o setor de viagens já fez um bom progresso e em quais áreas ainda existem oportunidades importantes de melhoria?
[00:20:13] Alvaro No segmento dos hotéis, de modo geral, temos visto bons avanços. Em resorts, em cruzeiros, também, acho que há bastante progresso. No cenário de passeios e atividades, acho que um pouco menos. É mais ou menos aí, em termos geográficos, que temos visto mais progresso. E eu acho que os EUA avançaram mais em comparação com o resto do mundo. Também o Reino Unido e a Austrália. E quem não fez progresso algum, mais uma vez: o setor das companhias aéreas. Com certeza. Não tivemos nenhum avanço nos últimos 20 anos.
[00:20:52] Brandon E Toby.
[00:20:53] Toby Pois é, acho que muitas das barreiras que enfrento como uma pessoa com deficiência visual que viaja com um cão-guia estão na atitude das pessoas. Por isso, eu acho que tivemos algum progresso no que se refere à maneira como a sociedade pensa, sente e age em relação às deficiências. Estamos começando a ver pessoas da geração dos Baby-boomers enfrentando deficiências por conta do envelhecimento, e eles gastam muito com despesas opcionais, acho que em torno de 17 trilhões ou algo semelhante à maior riqueza da história humana, e isso está impulsionando mudanças. Além disso, os millennials e Geração Z aceitam melhor, no âmbito social, as deficiências como identidade. Houve progresso em várias áreas, e eu acho que nenhuma delas é a aceitação, o que é importante. Mas acho que ainda há um longo caminho pela frente, não apenas em termos de barreiras comportamentais, mas também físicas, como Alvaro dizia agora há pouco, casos nos quais há muita dificuldade física, quando não há impossibilidade, para viajar.